sábado, 13 de abril de 2013

Sempre haverá mais de Deus para desfrutarmos


Sempre haverá mais de Deus para desfrutarmos

Quero levantar uma muralha entre o desejo e o deleite, ou entre ansiar e sentir prazer. Algumas vezes falarei sobre desejar a Deus e outras vezes sobre deleitar-se em Deus. Outras vezes falarei sobre o insaciável anseio por Deus e, às vezes, sobre os prazeres na sua presença. A diferença entre desejar a Deus e deleitar-se em Deus é importante principalmente para deixar claro que [nova] criaturas finitas como nós, que têm uma inclinação espiritual para a glória de Deus, sempre desejarão mais de Deus do que têm hoje – e mesmo na eternidade. Sempre haverá mais de Deus para desfrutarmos. O que significa que sempre haverá um desejo santo – para sempre.

Na época em que vivemos, isso é frustrante. Lamentamos que nosso anseios por coisas menos importantes competem com Deus na satisfação da nossa alma. Com razão. Essa é uma tristeza santa. Fazemos bem em nos acharmos culpados e contritos. Sabemos que experimentamos prazeres que Deus prepara para nós e que os nossos desejos por eles são lamentavelmente pequenos comparados ao seu real valor. Seria bom lembrarmos neste ponto que nossos desejos – não importa quão diminutos sejam – foram despertados pela experiência espiritual que tivemos da presença de Deus. Eles são um indício daquilo que experimentamos. Seria útil também aqui lembrarmos que os nossos desejos são apenas uma pequena porção do que está por vir. O vigor do nosso desejo não é para ser comparado com a intensidade do prazer final. Essa verdade pode nos livrar do desespero e nos manter na luta pelo máximo de alegria em Deus, vivendo neste mundo decaído.

No entanto, a verdade de que a alma finita sempre desejará mais de Deus do que experimenta no presente não causará frustração na vida por vir. Quando formos aperfeiçoados e tivermos nosso corpo ressurreto, os desejos que permanecerem não serão porque o pecado está competindo com Deus para terem nossa predileção. Ao contrário, será porque, mentes finitas são incapazes de receber a plenitude da grandeza e da glória infinita. Incrementos magníficos, mas controlados, nos serão dados cada dia por toda a eternidade.

Na vida por vir nunca desejaremos mais de Deus com impaciência, ingratidão ou frustração. Todos os desejos no futuro serão a mais doce expectativa, arraigada sempre mais profundamente nas crescentes lembranças da alegria e nos prazeres sempre colhidos da gratidão. Deus não nos tirará o prazer da alegria que é esperada. Ele o elevará. Por toda a eternidade, ele nos dará a mistura perfeita do prazer presente e da expectativa do prazer futuro. A expectativa será despojada de qualquer frustração. Seu desejo será completamente prazeroso.  

Deus será glorificado tanto pela intensidade do deleite presente que temos em sua beleza quanto na intensidade dos desejos que temos por mais revelação de sua plenitude. Os prazeres presentes despertarão desejos novos e esses desejos serão o sinal de prazeres futuros maiores ainda. Os prazeres serão perfeitamente desejados e os desejos serão perfeitamente prazerosos.

O que experimentamos aqui neste mundo decaído é um reflexo parcial disso. Estamos caminhando nessa direção. Não estamos lá ainda. É com muita dor que sabemos disso. No entanto, nossa vocação aqui é lutar pela alegria – nossa e de todos os povos por meio de Jesus Cristo. O propósito é que o valor de Deus – sua qualidade de ser infinitamente desejável – seja conhecido, apreciado e honrado em todo o mundo. É isso o que significa Deus ser glorificado. Ele é mais glorificado em nós e por meio de nós quando estamos mais satisfeito Nele. A intensidade de nosso prazer e o nosso desejo produzem testemunho do seu valor perante o mundo, principalmente quando somos libertos por esse prazer (presente e esperado) para abandonarmos os prazeres desse mundo por uma vida de sacrifício e amor pelos outros.


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A natureza enganosa do pecado - Jonathan Edwards 1703-1758


O coração humano é cheio de pecado e corrupção; e a corrupção tem um efeito espiritual de cegueira. O pecado sempre carrega um grau de obscuridade. Quanto mais ele prevalece, mais ele obscurece e ilude a mente. Ele nos cega para a realidade que está no nosso próprio coração. Assim, o problema não é, em absoluto, a falta da luz da verdade de Deus. A luz brilha suficientemente ao nosso redor, mas a falha está nos nossos olhos; estão obscurecidos e cegos pela incapacidade mortal que resulta do pecado.

O pecado engana facilmente porque controla a vontade humana, e isso altera o julgamento. Quando a concupiscência prevalece, predispõe a mente para aprová-la. Quando o pecado influencia nossas preferências, ele parece agradável e bom. A mente é naturalmente predisposta a pensar que tudo o que é agradável é correto. Portanto, quando um desejo pecaminoso vence a vontade, também lesa o entendimento. Quanto mais a pessoa anda no pecado, provavelmente, mais a sua mente será obscurecida e cega. Assim é que o pecado assume o controle das pessoas.
Portanto, quando elas não estão conscientes do seu pecado, fica extremamente difícil fazê-las enxergar o erro. Afinal de contas, o mesmo desejo maligno que as levou ao pecado, as cegará. Quanto mais uma pessoa raivosa consente com a malícia ou com a inveja, mais esses pecados cegarão seu entendimento para que ela os aprove. Quanto mais um homem odeia o seu vizinho, mais ele tende a pensar que tem uma boa causa para odiar, e que aquele vizinho é digno de ódio, que merece ser odiado, e que não é seu dever amá-lo. Quanto mais prevalece os desejos de um homem impuro, mais doce e agradável o pecado lhe parecerá, e mais ele tenderá a pensar que não há mal nisso.

Semelhantemente, quanto mais uma pessoa deseja coisas materiais, provavelmente mais pensa que é desculpável por agir assim. Dirá a si mesmo que precisa de certas coisas, e que não pode viver sem elas. Se são necessárias, raciocina ele, não é pecado desejá-las. E as concupiscências do coração podem assim ser justificadas. Quanto mais prevalecem, mais cegam a mente e influenciam o julgamento que as aprova. Por isso, a Bíblia denomina os apetites mundanos de "as concupiscências do engano" (Ef 4.22). Até pessoas piedosas podem por um tempo permanecer cegas e iludidas pela concupiscência, e assim viverem de uma maneira que desagrada a Deus.

A concupiscência também incita a mente carnal a inventar desculpas para as práticas do pecado. A natureza humana é muito sutil quanto se trata de racionalizar o pecado. Alguns são tão devotados às suas maldades que quando a consciência os importuna, torturam a mente a fim de encontrar argumentos que façam com que ela se cale e que os convençam de que procederam licitamente quando pecaram.

O amor a si mesmo também predispõe as pessoas a desculparem o seu pecado. Elas não gostam de se condenar. São naturalmente preconceituosas em seu próprio favor. Procuram bons nomes para denominar suas tendências pecaminosas. Elas as transformam em virtudes — ou no mínimo em tendências inocentes. Rotulam a avareza de "prudência", ou então chamam a ganância de "negócio inteligente". Quando se alegram com as calamidades do próximo, fingem que é porque esperam que isso trará algum bem à pessoa. Se bebem muito, é porque sua constituição física o exige. Se caluniam, ou falam do vizinho, afirmam ser zelosos quanto ao pecado. Se entram numa discussão, dizem ter uma consciência obstinada e consideram sua discórdia mesquinha uma questão de princípios. E assim, encontram bons nomes para todas as formas de mal.

As pessoas têm a tendência de adaptar os seus princípios à sua prática, e não o contrário. Além de permitir que seu comportamento se conforme com a consciência, despenderão uma energia tremenda tentando fazer com que sua consciência se adapte ao seu comportamento.

Como o pecado é tão enganoso, e como temos muito pecado no coração, é difícil julgar nossos próprios caminhos com justiça. Por causa disso, deveríamos fazer um auto-exame diligente e nos preocupar em descobrir se há em nós algum caminho mau. "Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado" (Hb 3.12,13).

As pessoas vêem mais facilmente os erros dos outros do que os seus. Quando vêem os outros errarem, imediatamente os condenam — até mesmo enquanto se desculpam pelos mesmos pecados! (cf. Rm 2.1). Todos vemos um argueiro nos olhos dos outros e não a trave nos nossos olhos. "Todo caminho do homem é reto aos próprios olhos" (Pv 21.2). "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?" (Jr 17. 9). Não podemos confiar em nosso coração nesta questão. Em vez disso, devemos nos vigiar, interrogar nosso coração cuida¬dosamente, e pedir a Deus que nos sonde completamente. "O que confia no seu próprio coração é insensato" (Pv 28.26).
Jonathan Edwards 1703-1758

Fonte: www.jonathanedwards.com.br


quarta-feira, 7 de março de 2012

Deus é o Evangelho – John Piper

Deus é o Evangelho – John Piper

Você já se perguntou por que o perdão de Deus é valioso? Ou, se a vida eterna é valiosa? Já se perguntou por que alguém quer ter a vida eterna? Por que desejamos viver para sempre? Estas questões são importantes por ser possível desejarmos perdão e vida eterna por motivos que comprovam que não os temos.

Por exemplo, considere o assunto do perdão. Talvez você queira o perdão de Deus por que está muito infeliz com sentimentos de culpa. Você quer alívio. Se puder crer que Deus o perdoa, você terá algum alívio, mas não necessariamente a salvação. Se quer o perdão somente por causa de alívio emocional, você não receberá o perdão de Deus. Ele não dá o seu perdão àqueles que o usam apenas para ter os dons dEle e não a Ele mesmo.
Ou, talvez, você queira ser curado de uma enfermidade ou conseguir um emprego e encontrar uma esposa. Então, você ouve que Deus pode ajudá-lo a obter estas coisas, mas que, primeiramente, seus pecados teriam de ser perdoados. Alguém o exorta a crer que Cristo morreu por seus pecados e lhe diz que, se você crer nisto, seus pecados serão perdoados. Conseqüentemente, você crê, a fim de que seja removido o obstáculo à sua saúde e consiga um emprego ou uma esposa. Isto é salvação pelo evangelho? Não creio que seja.

Em outras palavras, o que você espera receber por meio do perdão é importante. O motivo por que você deseja o perdão é importante. Se quer o perdão tão-somente por que deseja gozar da criação, então, o Criador não é honrado e você não é salvo. O perdão é precioso por uma única razão: ele o capacita a desfrutar da comunhão com Deus. Se esta não é razão por que você quer o perdão, você não o terá de maneira alguma. Deus não será usado como moeda para a compra de ídolos.
Também perguntamos: por que desejamos ter a vida eterna? Alguém pode responder: “Porque o inferno é a alternativa dolorosa”. Outro pode dizer: “Porque não haverá nenhuma tristeza no céu”. Outro pode replicar: “Meus queridos foram para o céu, e quero estar com eles”. Outros poderiam sonhar com sexo e alimentos intermináveis, ou com algo mais nobre. Em tudo isso, Alguém está ausente: Deus.

O motivo salvífico para querermos a vida eterna é apresentado em João 17.3: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”. Se queremos a vida eterna por ela significar outra coisa, e não o regozijo em Deus, não teremos essa vida. Enganamos a nós mesmos dizendo que somos cristãos, se usamos o glorioso evangelho de Cristo para buscar o que amamos mais do que buscamos o próprio Cristo. As “boas-novas” não se comprovarão como boas para qualquer pessoa que não tenha a Deus como seu principal bem.
Jonathan Edwards apresentou esta verdade em um sermão à sua igreja, em 1731. Leia estas palavras lentamente e permita que elas o despertem para a verdadeira vida e o verdadeiro bem do perdão.
Os redimidos têm todo o seu verdadeiro bem em Deus. Ele mesmo é o grande bem que possuem e desfrutam por meio da redenção. Deus é o bem mais sublime, a suma de todo o bem que Cristo adquiriu. Deus é a herança dos santos; é o quinhão da alma deles. Ele é a riqueza e o tesouro, o alimento, a vida, a habitação, o ornamento e a coroa, a glória eterna e duradoura dos santos. Eles não têm nada no céu, exceto a Deus. Ele é o grande bem no qual os crentes são recebidos na morte e para o qual eles devem ressurgir no fim do mundo. O Senhor Deus, Ele é a luz da Jerusalém celestial; é o “rio da água da vida” que corre e a “árvore da vida” que cresce “no paraíso de Deus”. As gloriosas excelências e belezas de Deus fascinarão para sempre a mente dos santos, e o amor de Deus será o deleite eterno deles. Com certeza, os redimidos desfrutarão outras alegrias. Eles se alegrarão com os anjos e uns com os outros. Mas aquilo que lhes encantará nos anjos e uns nos outros, ou em qualquer outra coisa; aquilo que lhes proporcionará deleite e felicidade será o que de Deus poderá ser visto neles.



Extraído do livro: Penetrado pela Palavra, de John Piper.
Copyright: © Editora FIEL 2009
O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel

sábado, 3 de março de 2012

É Deus para nós ou para Si mesmo?

Há anos fui a uma cruzada de Billy Graham no Anaheim, Califórnia. Naquela noite havia cerca de 50.000 pessoas lá, creio eu, e me sentei na arquibancada da esquerda podendo ver a enorme multidão ao redor do campo inteiro. Quando entoaram o hino "Quão Grande És Tu," Consegui cantar algumas notas até que não pude mais acompanhar a música. Nunca tinha ouvido nada assim antes. Cinquenta mil vozes cantando louvores a Deus! Isso abalou tanto meu coração que nunca mais esqueci aquele momento. Nunca nada me pareceu mais correto ou mais bonito ou mais profundamente alegre do que 50.000 criaturas cantando juntamente de todo coração a Deus.

Eu realmente creio que tive um pequeno vislumbre de céu naquela noite, porque Apocalipse 5:11–13 ilustra o céu assim:

“E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e dos anciãos; e era o número deles milhões de milhões, e milhares de milhares, que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder e riquezas e sabedoria e força e honra e glória e ações de graças.

E ouvi toda a criatura que está no céu e na terra e debaixo da terra e que está no mar e a todas as coisas que neles há dizer: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre.”

A visão do céu é a visão das inúmeras miríades de criaturas louvando ao Pai e ao Filho com toda força. E aqueles que experimentaram a glória do Cordeiro não perderão isso para o mundo.

Deus busca Seu próprio louvor

O Cordeiro é digno. Deus o Pai é digno. E, portanto, devemos louvá-los. E iremos louvá-los. A maioria dos crentes não tem dificuldades com esta verdade. Mas há duas semanas temos visto nas Escrituras que Deus não apenas agiu de modo a Ser digno de louvor, mas foi além, tornando Seu objetivo receber louvor. Deus não apenas espera Ser exaltado por Seu poder e justiça e misericórdia, Ele tomou a iniciativa desde a eternidade para exaltar Seu próprio Nome na terra e para mostrar Sua glória. Tudo o que Ele faz é motivado por Seu desejo de ser glorificado. Isaías 48:11 essa é a bandeira sobre cada ato divino:

“Por amor de mim, por amor de mim o farei, porque, como seria profanado o meu nome? E a minha glória não a darei a outrem.”

Jeremias 13:11 diz assim:

“Porque, como o cinto está pegado aos lombos do homem, assim eu liguei a mim toda a casa de Israel, e toda a casa de Judá, diz o Senhor, para me serem por povo, e por nome, e por louvor, e por glória; mas não deram ouvidos.”

O objetivo de Deus em tudo que faz é receber o louvor da glória de Seu Nome.

E para que não pensemos ser esta apenas uma ênfase do Velho Testamento, olhem atentamente para o texto de Efésios 1. Que grande livro é este! Com frases que alcançam não somente 11 versos de comprimento, mas com uma altura que alcança os céus. Há uma frase repetida três vezes nos versículos 6, 12 e 14, que deixa muito claro o que Paulo pensa ser o objetivo de Deus em nos salvar do pecado e para Si mesmo. Observe os versos 5 e 6:

“E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, Para louvor e glória da sua graça.”

Então o verso 12:

“Com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo.”

Finalmente o verso 14:

“O Espírito santo é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória.”

Dos eternos decretos passados de Deus na predestinação, para o futuro gozo eterno da nossa herança no porvir, o objetivo e propósito de Deus têm sido que Sua glória seja louvada, especialmente a glória da Sua graça.

Deus é louvável, devemos louvá-lo, iremos louvá-lo—estas são verdades comuns entre os cristãos, e nós as afirmamos com prazer. Mas ouvimos com menos frequência a verdade de que o louvor da glória de Deus não é meramente o resultado de Sua ação, mas também o objetivo e propósito dessa ação. Ele governa o mundo precisamente a fim de ser admirado, maravilhado, exaltado e louvado. Cristo está vindo, Paulo diz em 2 Tessalonicenses 1:10, no final desta época, "Quando vier para ser glorificado nos seus santos, e para se fazer admirável naquele dia em todos os que creem (porquanto o nosso testemunho foi crido entre vós)." Mas minha experiência me mostra que as pessoas recebem esta verdade com algum desconforto. Tudo bem que Deus seja louvado, mas não parece muito bom que Ele procure o louvor. Jesus não disse: "Quem exalta a si mesmo será humilhado, e quem se humilha será exaltado"? No entanto, o propósito claro de Deus nas Escrituras é exaltar-Se aos olhos do homem.

Meu objetivo nesta mensagem é mostrar, da melhor maneira possível, que o objetivo e esforço de Deus para glorificar a Si mesmo são totalmente bons e sem qualquer tipo de falha e é muito diferente da autoexaltação humana, porque é uma expressão de amor. Então, espero que afirmemos esta verdade com alegria e nos unamos a Deus em Seu grande objetivo.

Duas maneiras de tropeçar na centralidade de Deus

Há duas razões, eu penso, pelas quais nós podemos tropeçar no amor de Deus por Sua própria glória e zelo para que os homens O louvem por isso. Uma delas é que nós não gostamos de seres humanos que agem dessa maneira, e a outra é que a Bíblia parece ensinar que uma pessoa não deve buscar sua própria glória. Então, as pessoas se ofendem com a autoexaltação de Deus tanto por causa da sua própria experiência cotidiana, quanto por causa de alguns textos bíblicos.

Nós simplesmente não gostamos de pessoas que pareçam ser muito apaixonadas por suas próprias habilidades, poder ou aparência. Nós não gostamos de estudiosos que tentam mostrar os seus conhecimentos específicos ou que recitam todas as suas recentes publicações e leituras. Não gostamos de empresários que falam e falam sobre quão astuciosamente investiram sua pilha de dinheiro e como ficaram por cima no mercado entrando em baixa e saindo em alta o tempo todo. Nós não gostamos que as crianças sejam competitivas em todo tempo. E, a menos que nós sejamos assim, desaprovamos homens e mulheres que não se vestem de uma forma não funcional, simples e inofensiva, mas, ao contrário, pretendem estar na última moda para serem consideradas legais ou modernas ou descontraídas ou o que quer que o mundo diga que você deva parecer.

Por que não gostamos de tudo isso? Eu acho que é porque todas essas pessoas não são autênticas. Elas são o que Ayn Rand chama de "pessoas de segunda mão." Elas não vivem da alegria que vem através da conquista do que valorizam por si mesmas. Em vez disso, elas vivem de segunda mão, da honra e elogios dos outros. E nós não admiramos pessoas assim. Admiramos pessoas que são compostas e seguras o suficiente para não sentirem a necessidade de escorar suas fraquezas e compensar suas deficiências reais tentando receber o maior número de elogios possível.

É lógico, portanto, que qualquer ensinamento que pareça colocar Deus na categoria de um aproveitador seria considerado suspeito pelos cristãos. E para muitos o ensino de que Deus procura louvor e deseja ser admirado e faz coisas para Sua própria exaltação de fato O coloca nesta posição. Mas será que deveria? Uma coisa podemos dizer com certeza: Deus não é fraco e nem tem deficiências: " Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas " (Romanos 11:36). Ele sempre foi, e tudo o que é deve o seu ser a Ele. Assim ninguém Lhe pode acrescentar nada que já não flua dEle mesmo. É simplesmente isso que significa ser eterno Deus e não uma criatura. Entretanto, o zelo de Deus em buscar Sua glória e por ser louvado pelos homens não pode ser atribuído a Sua necessidade de encobrir alguma fraqueza ou compensar alguma deficiência. Ele pode parecer, a um olhar superficial, estar na categoria dos “de segunda mão”, mas, Ele não é como todos os outros e a aparente similaridade deve ser explicada de uma outra forma. Deve haver algum outro motivo que O leva a buscar o louvor da Sua glória.

Existe outra razão, por experiência, pela qual não gostamos daqueles que buscam a própria glória. Não é apenas pela falta de autenticidade, tentativa de esconder fraquezas e deficiências, mas também por não serem amorosos. Eles se preocupam tanto com a própria imagem e louvor que não se importam com o que acontece com as outras pessoas. Esta observação nos leva à razão bíblica pela qual pareça tão ofensivo que Deus busque Sua própria glória. 1 Coríntios 13:5 diz, "O amor não busca seus próprios interesses." Agora, isso parece criar uma crise, pois se, como eu penso que as Escrituras ensinam claramente, Deus tem por objetivo final ser honrado e glorificado, como pode, então, ele ser amoroso? Pois "O amor não busca seus próprios interesses." Por três semanas vimos textos bíblicos que ensinam que Deus é para Si mesmo. "Por amor de mim, por amor de mim o faço. A minha glória não a darei a outrem." (Isaías 48:11). Mas se Deus é um Deus de amor, Ele tem de O ser por nós. Então, Deus é por nós ou por Ele mesmo?

O infinito amor de Deus na busca de Seu próprio louvor

A resposta que quero persuadi-lo crer que seja verdadeira é esta: porque Deus é único como o mais glorioso de todos os seres e totalmente autossuficiente, Ele deve ser para Si mesmo a fim de ser para nós. Se Ele abandonasse a meta de Sua própria autoexaltação, nós seríamos os perdedores. Seu objetivo em trazer louvor para Si mesmo e Seu objetivo em dar prazer ao Seu povo são um único objetivo e permanecem ou caem juntos. Acho que veremos isso se fizermos a pergunta seguinte.

Em vista da beleza infinitamente admirável e o poder e sabedoria de Deus o que envolveria o Seu amor a uma criatura? Ou, colocado de outra forma: O que Deus poderia nos dar para mostrar todo o Seu amor? Existe apenas uma resposta possível, não é? ELE MESMO! Se Deus nos der o melhor, o mais satisfatório, ou seja, se Ele nos ama perfeitamente, tem que nos oferecer nada menos do que Ele mesmo para a nossa contemplação e comunhão.

Foi precisamente essa intenção de Deus ao enviar Seu Filho. Efésios 2:18 diz que Cristo veio para que pudéssemos ter "acesso em um mesmo Espírito ao Pai." E 1 Pedro 3:18 diz, "Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus." Deus concebeu todo o plano da redenção em amor para levar os homens de volta para Si mesmo, pois como diz o salmista, "na Tua presença há plenitude de alegria, na Tua mão direita há delícias perpetuamente" (16:11). Deus é por nós para nos dar o que for melhor—não o prestígio, a riqueza ou até mesmo a saúde nesta vida, mas uma visão plena e comunhão com Ele mesmo.

Mas agora estamos à beira do que para mim foi uma grande descoberta e, creio também a solução para nosso problema. Para ser supremamente amoroso, Deus tem que nos dar o que é melhor para nós e o que mais nos deleitará, Ele tem que nos dar a Si mesmo. Mas o que fazemos quando nos é dado ou mostrado algo excelente, algo que gostamos? Nós o louvamos. Nós louvamos bebês recém-nascidos que conseguem não nascer tortos ou malformados, "Oh, olhe que cabeçinha redonda, e o cabelinho, e as mãozinhas!" Louvamos ver a face amada após uma longa ausência: "Seus olhos são como o céu, seu cabelo é como seda; Oh, você é linda para mim." Louvamos um grand slam no final da nona volta quando estamos atrás por três corridas. Louvamos as árvores ao longo do St. Croix durante uma viagem de barco no Outono.

Mas a grande descoberta que eu fiz, com a ajuda de C. S. Lewis, não foi somente que nós louvamos o que gostamos, mas que o louvor é o clímax da alegria em si. Não foi acrescentado depois; é parte do prazer. Ouçam como Lewis descreve essa percepção em seu livro sobre Salmos:

“Mas o fato mais óbvio sobre o louvor—seja de Deus ou qualquer outra coisa—estranhamente me escapou. Eu o considerava em termos de elogio, aprovação ou honra. Nunca tinha percebido que todo gozo espontâneo transborda em louvor, a menos que, (algumas vezes ainda que) a timidez ou o medo de aborrecer os outros deliberadamente apareçam. O mundo ressoa em louvor—amantes louvam seus amados, leitores seu poeta favorito, os que caminham louvam a paisagem, torcedores louvam seus times— louvores ao clima, aos vinhos, aos pratos, aos atores, aos cavalos, às faculdades, aos países, aos personagens históricos, às crianças, às flores, às montanhas, aos selos raros, aos besouros raros, até mesmo, por vezes, aos políticos e estudiosos. Minha maior e mais básica dificuldade sobre o louvor a Deus dependia da minha negação absurda a nós, com respeito ao supremamente Valioso, do que nos deleitamos em fazer — o que de fato não podemos continuar fazendo — sobre tudo o mais que valorizamos.

Imagino que tenhamos prazer em louvar o que nos agradar porque o louvor não meramente expressa mas complementa o gozo; ele é a sua consumação. Não é sem razão que os amantes continuam dizendo uns aos outros quão belos eles são; o deleite é incompleto até que seja expresso.” (Reflexões em Salmos, pp. 93-95)

Aí está a chave: nós louvamos o que nos agrada porque o deleite não se completa até que o expressemos em louvor. Se não pudéssemos falar a respeito do que valorizamos e celebramos, do que amamos e louvamos, do que admiramos, nossa alegria não seria completa. Jonathan Edwards disse: “Alegria é um grande ingrediente do louvor... O louvor é a tarefa mais alegre do mundo”. Entretanto, se Deus é verdadeiro para nós, se Ele quer nos dar o melhor e tornar a nossa alegria completa, deve fazer do Seu objetivo o ganhar nosso louvor para Si. Não porque Ele necessite encobrir alguma fraqueza em Si mesmo ou compensar alguma deficiência, mas porque Ele nos ama e busca a plenitude da nossa alegria que pode ser encontrada somente no conhecimento e louvar do mais belo de todos os seres.

Deus é o único ser em todo universo para quem o ato de buscar o Seu próprio louvor é um ato máximo de amor. Para Ele, a autoexaltação é a maior de todas as virtudes. Quando Ele fez todas as coisas “para o louvor da Sua glória”, como diz Efésios 1, Ele nos preserva e nos oferece a única coisa no mundo inteiro que pode satisfazer nossos anseios. Deus é por nós, e, portanto, tem sido, é e sempre será, em primeiro lugar, por Si mesmo. Louvado seja o Senhor! Todo ser que respira louve ao Senhor.

By John Piper. © Desiring God. Website: desiringGod.org

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Preservem o Sal e a Luz - John Piper

O que há nos cristãos que faz deles o sal da terra e a luz do mundo? Não
são as riquezas. O desejo por riquezas e a busca de riquezas têm sabor e
aparência do mundo. Desejar ser rico nos torna como o mundo, não
diferentes. Justo no ponto onde deveríamos ter um sabor diferente, temos a
mesma cobiça maliciosa que o mundo tem. Neste caso, não oferecemos ao
mundo nada diferente do que ele já crê.
A grande tragédia da pregação da prosperidade é que uma pessoa não
tem que ser acordada espiritualmente para abraçá-la; ela precisa apenas ser
gananciosa. Ficar rico em nome de Jesus não é o sal da terra ou a luz do mundo
mundo. Nisto, o mundo simplesmente vê um reflexo
de si mesmo. E se eles são “convertidos” a isso, eles não foram realmente convertidos, mas apenas
colocaram um novo nome numa vida velha.


O contexto na fala de Jesus nos mostra o que o sal e a luz são. São a
alegre boa vontade de sofrer por Cristo. Eis o que Jesus disse:

“Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos
perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo.” (Mateus 5:11-14)


O que fará o mundo saborear o sal e ver a luz de Cristo em nós, não é que
amemos as riquezas da mesma forma que eles amam. Pelo contrário, será a
boa vontade e a habilidade dos cristãos de amar aos outros em durante o
sofrimento, a todo tempo exultando porque seu galardão está nos céus com
Jesus. “Regozijai-vos e exultai [nas dificuldades]... Vós sois o sal da terra.”
Salgado é o sabor da alegria nas dificuldades. Esta é a vida inusitada que o mundo pode saborear como diferente.

Tal vida é inexplicável em termos humanos. É sobrenatural. Mas atrair
pessoas com promessas de prosperidade é simplesmente natural. Não é a
mensagem de Jesus. Não é aquilo que ele alcançou com sua morte.